Os produtos chineses invadiram o mundo todo. A etiqueta, que denomina a origem do fabricante “Made in China”, tornou-se mais que conhecida dos consumidores, e começa a determinar um novo padrão de preços no mercado mundial. Consumidores e empresas, ao redor do mundo, olham a novidade como uma grande oportunidade de obter produtos a preços absolutamente imbatíveis e, no segundo caso, ganhar dinheiro.
As indústrias passam a adotar os preços chineses como parâmetro a ser alcançado e, com enorme esforço sobrepujado. No entanto, a tarefa não tem se mostrado fácil. E a razão é bastante simples: o mundo ocidental tem custos de mão-de-obra e de proteção ambiental, impostos embutidos nos valores dos produtos, o que não ocorre com os chineses na mesma proporção. Isto para falar na concorrência leal, como se espera de uma economia de mercado. Porém, há um lado mais sombrio dessa competição: produtos subfaturados, falsificados, pirateados.
O desenvolvimento de uma autopeça envolve um trabalho bastante criterioso que demanda investimentos “intensivos”, como exige o setor. Projeto, design, desenvolvimento dos materiais e matérias-primas aplicáveis aos requisitos da peça e do veículo que ela irá equipar, testes, comprovação da qualidade, enfim, uma série de processos e atividades executadas por profissionais com formação, treinamento e experiência nunca inferior a 10 anos nesse negócio. Isso custa caro!
O produto pirateado parte do final do processo, sem percorrer todas essas fases e, muitas vezes, utiliza materiais que não garantem o desempenho da peça. E aí, assistimos a uma invasão de produtos, tais como: peixes congelados contaminados, substâncias químicas não mencionadas nos rótulos foram achadas num lote de xarope no Panamá e em ração animal nos Estados Unidos. Isso mostra até onde pode chegar a ganância desenfreada pelo lucro fácil e pela concorrência predatória.
No final do mês de junho, nos Estados Unidos, ocorreu um fato extremamente grave evolvendo o setor automotivo, que virou manchete nos principais jornais daquele país. Um distribuidor de pneus norte-americano importou milhares de unidades para abastecer o mercado de reposição e agora terá de fazer gigantesco recall que totaliza 450 mil unidades. O caixa da empresa suporta apenas 10% dos custos do recall já anunciado. Resultado: o distribuidor paga os 10% e vai à falência pela absoluta falta de condições de honrar custos que envolvem o valor da peça, os custos dos serviços e eventuais custos sociais. O fabricante chinês, também, conforme a mesma divulgação, se nega a assumir os prejuízos.
Um veículo automotor é um sistema integrado, cada peça tem papel importante no funcionamento do todo. É ilusão pensar que há num veículo peças que nunca comprometam a segurança e, por conseguinte, coloquem em risco a vida dos ocupantes. Agora, a qualidade do pneu está direta e inexoravelmente ligada à segurança: é linha de frente! É óbvio que não podemos tratar qualquer produto importado, seja de que país for, como foco de desconfiança; isto não estaria correto! O comércio internacional é fator determinante para o desenvolvimento de qualquer país. Exportar gera divisas, importar gera conhecimento, entre outros fatores, e não devemos ignorar o fato.
No entanto, com a série de ocorrências, como as citadas acima, uma reflexão é inevitável por parte de qualquer agente desse processo. Sugiro que a reflexão comece por uma avaliação sobre a forma como as importações são feitas, se as avaliações dos fornecedores são realizadas com os mesmos critérios utilizados no mercado local. E, não deixar de lado, a boa avaliação dos processos de manufatura e qualidade que podem, muito bem, justificar por que pneus, ração para animais, peixes congelados, dentifrícios podem ser vendidos com os problemas apresentados. Para não ficar no ar, é importante mencionar que a Agência Reuters acaba de publicar matéria que revela dados alarmantes sobre essa questão. Quase 20% dos produtos chineses verificados em inspeções de qualidade, no primeiro semestre deste ano, estavam abaixo dos padrões exigidos. Isso ajuda na nossa reflexão.
*Antônio Carlos Bento é coordenador do GMA – Grupo de Manutenção Automotiva composto pelo Sindipeças – Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores; Andap – Associação Nacional dos Distribuidores de Autopeças; Sincopeças-SP – Sindicato do Comércio Varejista de Peças e Acessórios para Veículos no Estado de São Paulo; Sindirepa-SP – Sindicato da Indústria de Reparação de Veículos e Acessórios do Estado de São Paulo, entidades que representam a cadeia de reposição independente de veículos.
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